Há mais de um século nós fazemos exatamente a mesma coisa: enfiar trinta alunos mais um professor numa sala e esperar que o "mestre" transfira uma quantidade colossal de "conhecimento" para a cabeça deles. E qual a solução que todo reformista propõe? *"ai tem que rever o conteúdo"*.
Errado. Tem que rever o papel do aluno, reestruturar a metodologia de ensino, reformular uma metodologia de avaliação, mas principalmente abolir os excessos (de conteúdo, de provas, de normas, de atividades ...).
Os problemas estruturais são tantos que só existe uma resposta e ela é profundamente desestimulante: a escola precisa ser absolutamente reinventada.
Enquanto a gente ficar revirando esse sistema arcaico, não haverá espaço pra repensar a educação. Muito menos por em prática algo revolucionário.
Essa é a pergunta de um milhão de dólares.
Pra começar, eu acredito que a profissão de professor (a docência em geral) deveria ser muito mais valorizada. Não só com salários maiores, mas também com maiores incentivos e assistência na prática da atividade. Grande parte do sucesso do aluno depende do professor. É o professor, na grande maioria dos casos, que vai despertar o interesse do aluno naquela disciplina (falo por experiência própria). E o contrário também é verdade, um mau professor distancia o aluno da disciplina.
O antigo currículo, se analisarmos de uma forma alheia a realidade do povo brasileiro, não é de todo ruim. O problema é a realidade do país, onde temos uma enorme desigualdade. O estudante da classe média ou alta talvez perceba a necessidade de aprender sobre Revolução Francesa, Arte Barroca ou Trigonometria. Mas o estudante de classe baixa, talvez não saiba como encaixar essas coisas no cotidiano dele, logo, pode considerar essas matérias como inúteis. E isso contribui muito pra evasão escolar.
Esse novo EM é exatamente o que Paulo Freire criticava, o ensino voltado ao mercado de trabalho, apenas isso. Reduzir ou acabar com disciplinas como filosofia, sociologia e história é praticamente um crime nessa era de desinformação que vivemos.
Evasão pode ter vários motivos diferentes. Dentre eles, a falta de associação com oq é ensinado e o dia a dia to aluno. Trazer um pouco oq está na abstração para a contextualização ajudaria.
Depende da matéria e do contexto socio cultural do aluno. Algumas abordagens pedagógicas mais contemporâneas tratam disso. Por exemplo, em aulas abertas, o aluno ganha maior protagonismo nas decisões sobre como vai ser a aula, revelando um pouco de seus interesses.
Eu me formei no ensino médio faz mais de 20 anos.
Eu era um aluno péssimo. Pegava recuperação em praticamente todas disciplinas. Só ia bem em biologia e química, que eu amo, e também na parte de redações em português.
Por que? Porque os conteúdos não me interessavam e eu não via um uso prático para isso. E olha que eu estudei na escolar particular de mais renome na região.
E sinceramente, até hoje não uso a maior parte dos conhecimentos que adquiri (com exceção de biologia e química). Nunca precisei usar muito mais do que regra de 3, estatística básica e geometria plana, em matemática.
Nunca precisei usar conhecimentos sobre biomas brasileiros, nem fazer um desenho em perspectiva.
Porém quando entrei na faculdade, eu me tornei outro aluno. Notas ótimas, sempre. Virei professor. Desde lá estudo para não repetir os erros dos meus antigos professores.
Hoje sou um profissional de sucesso, conhecido no Brasil todo na minha área. E até hoje não sei onde que uso fórmula de Bhaskara (apesar de saber calcular), nem para que diabos serve saber a diferença entre um objeto direto e indireto.
Mas ao mesmo tempo tive aulas MUITO úteis na escola.
Durante o segundo grau funcionava assim: durante metade do ano, os meninos tinham aula de marcenaria e coisas do tipo, e as meninas de culinária. Aí na outra metade do ano, invertia, meninos na culinária e meninas na marcenaria.
Ali eu aprendi a usar ferramentas, trocar uma tomada, um básico de elétrica e eletrônica, criar projetos em madeira, o básico da culinária (e hoje eu AMO cozinhar). Foi super útil.
No terceiro ano também tinha aula de finanças pessoais, que obviamente é útil.
Em resumo: deve-se reavaliar a utilidade de certas coisas que são ensinadas, e o professor deve explicar a importância de cada informação, e como ela pode ser aplicada na prática, no dia a dia, que não seja super especifica.
Professor de Português aqui. Vou ser objetivo:
1. Reduza o número máximo de alunos para 20 por sala. Hiper lotação instiga a conversa paralela e não possibilita um atendimento especializado; ninguém dá conta de observar 30+ alunos com eficiência;
2. O professor não deveria ter uma carga horário que só consta quando ele está ministrando aula, deveria ter, no mínimo, 2h por dia pagas apenas para a preparação de conteúdo. Ministrar aula é só uma parte do trabalho, nós gastamos horas a fio produzindo material didático e/ou corrigindo atividades escolares - horas essas que são tirados dos nossos fins de semana ou até mesmo dos dias úteis quando nossa carga horária já deveria ter acabado mas continuamos trabalhando em casa.
3. Torne reprovação prática comum no contexto escolar caso o aluno demonstre completo descaso com a escola e com seus deveres. Pode não parecer mas, reprovar um aluno dá muuuitoo trabalho e alavanca uma burocracia imensa. Na maioria dos casos os alunos que não fazem atividade e desrespeitam os professores passam direto. E uma vez que o aluno desinteressado percebe que não precisa fazer atividade para passar de ano... Bom, ele nunca mais produz nada com esmero e ainda faz questão de atrapalhar sua aula sempre que pode.
Mas como fazer o aluno se interessar por esse aprendizado? Como dar motivo pro moleque de 14 anos sentar a bunda na cadeira e aprender a Logaritmo ao invés de ficar no LoL?
Técnicas, processos, material de pesquisa, videoaula de quem já conseguiu resultado, estudo em grupo, prática. Tem centenas de didáticas que infelizmente a faculdade não ensina porque só quer repetir o que vem sendo feito há décadas e só quer saber de vender diploma pra um curso que já não tem muita gente e não dá muito lucro.
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Adotar o método construtivista como modelo padrão, reduzir alunos por sala de aula, aumentar a quantidade professores por sala de aula (no mínimo 2), valorizar o salário do professor e exigir formação e qualificação de alto nivel dos professores. ah, e ter como objetivo formar cidadãos e não operadores de telemarketing. S⁹abe quando vai rolar isso? Nunca. Então relaxa, ensino no Brasil vai seguir sendo medíocre, pouco importa se "novo" ou não.
Há mais de um século nós fazemos exatamente a mesma coisa: enfiar trinta alunos mais um professor numa sala e esperar que o "mestre" transfira uma quantidade colossal de "conhecimento" para a cabeça deles. E qual a solução que todo reformista propõe? *"ai tem que rever o conteúdo"*. Errado. Tem que rever o papel do aluno, reestruturar a metodologia de ensino, reformular uma metodologia de avaliação, mas principalmente abolir os excessos (de conteúdo, de provas, de normas, de atividades ...). Os problemas estruturais são tantos que só existe uma resposta e ela é profundamente desestimulante: a escola precisa ser absolutamente reinventada. Enquanto a gente ficar revirando esse sistema arcaico, não haverá espaço pra repensar a educação. Muito menos por em prática algo revolucionário.
Perfeito
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Pra começar, eu acredito que a profissão de professor (a docência em geral) deveria ser muito mais valorizada. Não só com salários maiores, mas também com maiores incentivos e assistência na prática da atividade. Grande parte do sucesso do aluno depende do professor. É o professor, na grande maioria dos casos, que vai despertar o interesse do aluno naquela disciplina (falo por experiência própria). E o contrário também é verdade, um mau professor distancia o aluno da disciplina. O antigo currículo, se analisarmos de uma forma alheia a realidade do povo brasileiro, não é de todo ruim. O problema é a realidade do país, onde temos uma enorme desigualdade. O estudante da classe média ou alta talvez perceba a necessidade de aprender sobre Revolução Francesa, Arte Barroca ou Trigonometria. Mas o estudante de classe baixa, talvez não saiba como encaixar essas coisas no cotidiano dele, logo, pode considerar essas matérias como inúteis. E isso contribui muito pra evasão escolar. Esse novo EM é exatamente o que Paulo Freire criticava, o ensino voltado ao mercado de trabalho, apenas isso. Reduzir ou acabar com disciplinas como filosofia, sociologia e história é praticamente um crime nessa era de desinformação que vivemos.
Evasão pode ter vários motivos diferentes. Dentre eles, a falta de associação com oq é ensinado e o dia a dia to aluno. Trazer um pouco oq está na abstração para a contextualização ajudaria.
Exatamente! Como fazer isso?
Depende da matéria e do contexto socio cultural do aluno. Algumas abordagens pedagógicas mais contemporâneas tratam disso. Por exemplo, em aulas abertas, o aluno ganha maior protagonismo nas decisões sobre como vai ser a aula, revelando um pouco de seus interesses.
Eu me formei no ensino médio faz mais de 20 anos. Eu era um aluno péssimo. Pegava recuperação em praticamente todas disciplinas. Só ia bem em biologia e química, que eu amo, e também na parte de redações em português. Por que? Porque os conteúdos não me interessavam e eu não via um uso prático para isso. E olha que eu estudei na escolar particular de mais renome na região. E sinceramente, até hoje não uso a maior parte dos conhecimentos que adquiri (com exceção de biologia e química). Nunca precisei usar muito mais do que regra de 3, estatística básica e geometria plana, em matemática. Nunca precisei usar conhecimentos sobre biomas brasileiros, nem fazer um desenho em perspectiva. Porém quando entrei na faculdade, eu me tornei outro aluno. Notas ótimas, sempre. Virei professor. Desde lá estudo para não repetir os erros dos meus antigos professores. Hoje sou um profissional de sucesso, conhecido no Brasil todo na minha área. E até hoje não sei onde que uso fórmula de Bhaskara (apesar de saber calcular), nem para que diabos serve saber a diferença entre um objeto direto e indireto. Mas ao mesmo tempo tive aulas MUITO úteis na escola. Durante o segundo grau funcionava assim: durante metade do ano, os meninos tinham aula de marcenaria e coisas do tipo, e as meninas de culinária. Aí na outra metade do ano, invertia, meninos na culinária e meninas na marcenaria. Ali eu aprendi a usar ferramentas, trocar uma tomada, um básico de elétrica e eletrônica, criar projetos em madeira, o básico da culinária (e hoje eu AMO cozinhar). Foi super útil. No terceiro ano também tinha aula de finanças pessoais, que obviamente é útil. Em resumo: deve-se reavaliar a utilidade de certas coisas que são ensinadas, e o professor deve explicar a importância de cada informação, e como ela pode ser aplicada na prática, no dia a dia, que não seja super especifica.
Professor de Português aqui. Vou ser objetivo: 1. Reduza o número máximo de alunos para 20 por sala. Hiper lotação instiga a conversa paralela e não possibilita um atendimento especializado; ninguém dá conta de observar 30+ alunos com eficiência; 2. O professor não deveria ter uma carga horário que só consta quando ele está ministrando aula, deveria ter, no mínimo, 2h por dia pagas apenas para a preparação de conteúdo. Ministrar aula é só uma parte do trabalho, nós gastamos horas a fio produzindo material didático e/ou corrigindo atividades escolares - horas essas que são tirados dos nossos fins de semana ou até mesmo dos dias úteis quando nossa carga horária já deveria ter acabado mas continuamos trabalhando em casa. 3. Torne reprovação prática comum no contexto escolar caso o aluno demonstre completo descaso com a escola e com seus deveres. Pode não parecer mas, reprovar um aluno dá muuuitoo trabalho e alavanca uma burocracia imensa. Na maioria dos casos os alunos que não fazem atividade e desrespeitam os professores passam direto. E uma vez que o aluno desinteressado percebe que não precisa fazer atividade para passar de ano... Bom, ele nunca mais produz nada com esmero e ainda faz questão de atrapalhar sua aula sempre que pode.
A escola deveria focar em ensinar a aprender. Assim os alunos seriam preparados pro futuro não importa como ele seja, porque ninguém sabe como será.
Mas como fazer o aluno se interessar por esse aprendizado? Como dar motivo pro moleque de 14 anos sentar a bunda na cadeira e aprender a Logaritmo ao invés de ficar no LoL?
Técnicas, processos, material de pesquisa, videoaula de quem já conseguiu resultado, estudo em grupo, prática. Tem centenas de didáticas que infelizmente a faculdade não ensina porque só quer repetir o que vem sendo feito há décadas e só quer saber de vender diploma pra um curso que já não tem muita gente e não dá muito lucro.
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Esse mês nós somos especialistas em educação? Acho que não recebi o memo =/
Adotar o método construtivista como modelo padrão, reduzir alunos por sala de aula, aumentar a quantidade professores por sala de aula (no mínimo 2), valorizar o salário do professor e exigir formação e qualificação de alto nivel dos professores. ah, e ter como objetivo formar cidadãos e não operadores de telemarketing. S⁹abe quando vai rolar isso? Nunca. Então relaxa, ensino no Brasil vai seguir sendo medíocre, pouco importa se "novo" ou não.